Não é para nos gabarmos, mas...

... quando o Daniel Oliveira sente necessidade de deixar as graçolas do costume para escrever um post de 30 mil caracteres sobre o seu voto no "sim", é porque deste lado estamos a trabalhar bem.

Comentários:
O post do Daniel Oliveira é muito, muito bom. Se as minhas ideias fossem menos firmes seria capaz de passar para o outro lado.
 
Não digo que não. Mas já é uma vitória nossa que ele se tenha sentido obrigado a defender a sua posição com seriedade.
 
O post do senhor Daniel Oliveira é simplesmente extraordinário e genial! Felicito-o por tamanho esclarecimento e capacidade intelectual.Para além da exemplar desconstrução temática que apresenta, ainda põe a descoberto a sua sublime capacidade argumentativa.
Gostaria, no entanto, de referir que tenho as minhas salvaguardas quanto à natureza da redacção do mesmo. Não sei se a necessidade de expor mais seriamente a sua posição nasceu da falta de compreensão do lado do "não" que, muitas vezes, deturpa e simplifica a visão do "sim" - veja-se o termo Graçolas; ou se, efectivamente este senhor, que segundo o senhor Pedro só dizia graçolas, sentiu necessidade de combater o poderoso, elaborado e sustentado discurso do "não"; não sei porquê mas tendo mais para a primeira hipótese, no entanto, só o próprio o poderá dizer.
Parabéns senhor Daniel Oliveira, o seu texto devia ser lido por todos nós, sem excepção.
Cumprimentos R.
 
O optimismo fica-vos bem... Deve ser para contrariar o resultado das sondagens...
 
O primeiro anónimo está ser injusto: eu nunca tratei os argumentos do Daniel Oliveira por Graçolas. Pelo menos com maiúscula.
 
Pedro Picoito,

Campos Elísios 202) O post do Daniel Oliveira é muito, muito bom. Se as minhas ideias fossem menos firmes seria capaz de passar para o outro lado.
(Pedro Picoito) Não digo que não. Mas já é uma vitória nossa que ele se tenha sentido obrigado a defender a sua posição com seriedade.


Ainda não o li todo (é realmente longo e fastidioso) mas, do que li, eu digo que não. O post do Daniel Oliveira não é bom, nem muito nem pouco, e não pode ser usado como um exemplo de seriedade na defesa so "sim". Comete uma série de erros de lógica e (no que li) foge completamente ao essencial.

Por ser muito longo e possuir inúmeras falhas na argumentação, ainda não tive tempo de acabar de o ler nem de lhe responder. Mas espero vir a fazê-lo.
 
Meus caros amigos:
Dado que o post de Daniel de Oliveira é comprido, não podia ter uma resposta curta! Penso que, no geral, o que o post faz é desenvolver os argumentos que aqui já foram expostos pelos partidários do Sim, expondo-os de uma forma racional e moderada (o que é, para mim, uma grande evolução... basta de nos atirarmos uns aos outros, discutamos ideias). Sendo assim, espero que a minha resposta siga os mesmos moldes (se assim não fôr, peço desculpa desde já). Como não sei se ele lerá o meu comment, referir-me-ei a ele na 3ª pessoa (não pretendo desrespeitar ninguém como já disse)

Quanto às perguntas que Daniel de Oliveira diz estarem em causa no referendo:
1. Este ponto é uma forma elaborada do velho argumento “Eu não te obrigo a abortar, mas tu obrigas-me a não abortar”. Tal já foi refutado muitas vezes neste blog. Se eu considero o embrião um ser vivo, que outra posição posso tomar que tentar protegê-lo, ainda que essa seja uma crença não compartilhada pelos restantes da minha sociedade?

2. Neste ponto há a apresentação do argumento “se a vida é um valor absoluto, por que há excepções” ao que eu respondo: não há leis absolutas e em todas é necessário o mínimo de bom senso (p.ex. homicídio por legítima defesa... quem foi morto também tinha direito alienável à vida, mas tal homicídio não é condenável por ninguém). Eu também não sou muito a favor da actual lei no que diz respeito às deficiências do feto... mas compreendo que uma mulher violada não consiga criar um filho gerado nessas condições (o ideal seria que o fizesse, mas a mulher provavelmente não tem condições psicológicas para o fazer e, além disso, não é imputável no acto cometido). Quanto ao colocar em risco a vida ou a saúde da mãe, acho que também é do bom senso.

Quanto à afirmação: “Até por uma intuição: acredito que a esmagadora maioria das mulheres grávidas estão numa posição privilegiada para lidar com todos os problemas morais que a decisão de abortar implica”... é derivada de uma posição um pouco romântica e optimista... quem nos garante que uma mulher não aborta simplesmente porque não lhe dá jeito ter um bebé(porque tais mulheres existem, e não sabemos se, em números absolutos, são tão poucas quanto nos querem fazer parecer)? Quem nos garante que num futuro longínquo (ou talvez não), o aborto não se tornará um método “contraceptivo”? Não pretendo ser alarmista, mas a verdade é que há 50 anos este debate que estamos a ter sobre se é ou não legítimo abortar os nosso filhos seria impensável... quem me garante que uma evolução neste sentido não vai criar uma espiral de desresponsabilização cada vez maior até chegarmos a uma mentalidade que, para nós (mesmo para os do Sim), pareça completamente errado?

3. Ao contrário das outras excepções da lei, a das dez semanas não tem em vista contemplar situações limítrofes e sim despenalizar em toda e qualquer situação contida num dado limite de tempo, que, para mais, não tem qualquer representatividade biológica (como o próprio Daniel de Oliveira afirma, o prazo gira apenas em torno dos interesses da mulher)

4. A questão de pagar ou não os abortos já foi igualmente discutida aqui e baseia-se simplesmente no facto que nós, que nos colocamos de um lado num tema FRACTURANTE, tenhamos que pagar um acto que vai contra a nossa consciência... sobretudo se for um aborto evitável com a aplicação de medidas preventivas que ainda não foram sequer implementadas (“educação sexual nas escolas, a divulgação da contracepção e o planeamento familiar” como o próprio Daniel de Oliveira o diz).
Além disso, é curioso que Daniel de Oliveira refira o SNS em detrimento das clínicas “que ganham dinheiro com o aborto” porque tais clínicas (que eu creio terem poucos escrúpulos, pelo que li numa entrevista a um ex-director de um desses estabelecimentos) vão ser as principais vencedoras com o “Sim”! Tais clínicas não irão (com a sua publicidade e protagonismo), tentar denegrir a qualidade do SNS para ganhar mais dinheiro, levando mais e mais mulheres a abortar nelas e a dispensar esse “acompanhamento” de que fala? E já agora, será que o SNS consegue comportar tal acompanhamento, já que não o faz em tantos domínios, incluindo o acompanhamento dos casos de risco para gravidezes indesejadas que poderiam prevenir o aborto? Se sim, para quê a liberalização e não o desvio de recursos para aí?
Finalmente, se efectivamente os números dizem que uma percentagem tão grande de mulheres abortam com médicos competentes e em clínicas, lá se vai o argumento dos “vãos de escada”! Os médicos que actualmente fazem abortos na clínica xpto não serão os mesmos que o farão após a despenalização?

Quanto aos argumentos que Daniel de Oliveira diz não estarem em causa neste referendo:
5. A questão da vida é o argumento central do Não PORQUE É A NOSSA PREOCUPAÇÃO! Se não fosse por isto, acho que poucos teriam a obstar à prática do aborto (embora ponha de lado medidas que me parecem bem mais preventivas e uma mentalidade de responsabilidade sexual mas isso é outra história). Aqui, Daniel de Oliveira põe a questão no sentido: Se eu não sei quando começa a vida, então não posso impor o meu conceito de vida aos outros! Mas eu acho que a questão deve ser posta ao contrário: Se eu não sei quando começa a vida, então não devo arriscar-me a privar um ser humano dos seus direitos fundamentais! Se eu não a sei definir, não posso estender direitos sobre onde ela é possível! É perigoso, não sabendo eu quando começa a vida, pôr-me a especular e a legitimar o aborto num determinado prazo! É o próprio autor que diz: “um referendo ou um Parlamento não estão habilitados para definir o conceito de “vida””! Então por que há de um referendo ou o Parlamento estar a decidir precisamente sobre isso? Não seria preferível a implementação de medidas menos fracturantes e que ainda podem fazer muito quanto a este assunto?
Além disso, parece-me que com os avanços científicos dos últimos anos, parece cada vez mais e mais lógico que a vida humana começa na fecundação! Aquela “célula” possui um código genético distinto e humano e que é o mesmo do indivíduo que nascerá daí a 9 meses. Todos os tecidos do recém-nascido derivam directamente daquela célula, num processo biológico contínuo e que não pode ser medido por tempos cronológicos convencionados pelo Homem. Isto é tanto mais verdade que eu tomei a minha posição sobre o aborto ANTES de saber a posição da Igreja... ou seja, apesar de eu ser católico, acho que tomei esta decisão tomando apenas como factores o meu conhecimento científico, pelo que é injusto atribuírem a esta posição um carácter religioso para a denegrirem. Também não é cientifico tentar fazer equivalências entre tempos biológicos e tempos cronológicos.

6. Será que o facto de Daniel de Oliveira ser contra o aborto e votar Sim (como parece que todos os adeptos do Sim o dizem, poucos dizem o oposto) não o coloca um bocado no nível das pessoas que votam Não e acham que há excepções? Não somos mais ou menos simplistas ou incoerentes que os do Sim... em temas fracturantes a moderação fica bem a toda a gente!

7. Ainda bem que Daniel de Oliveira não apoia as senhoras dos cartazes “Eu sou dona da minha barriga”… mas elas existem e de certeza que vão votar Sim no referendo. A verdade é que, efectivamente a mulher possui um papel fundamental no “milagre da vida”, mas tal deve-se a imperativos biológicos (não se podem engravidar metades que depois são coladas após o parto). De resto não podemos continuar a falar como se a sementinha fosse parar à barriga da mulher por magia. O acto sexual é um acto consciente da mulher e, como tal, se daí resultar outro ser humano, ela possui responsabilidades! Porque a mulher é o agente activo, não o embrião! Como de resto o é o pai! Não podemos continuar a exigir que o homem deixe de tratar a mulher como um objecto e se empenhe em ser responsável e igualitário nas relações sexuais, para depois o privar de ter uma palavra que seja quanto ao destino do seu filho! É discriminatório e é dos argumentos puramente baseados na natureza (como Daniel de Oliveira refere) que nascem os maiores dogmas e injustiças. Como tal deve-se actuar no domínio da mulher (e de todos os responsáveis imputáveis) e tentar proteger o embrião (que, caso o Sim ganhe, ficará completamente desprotegido e desprovido de direitos). A tónica deve ser colocada no indivíduo com Razão e Consciência e cujo comportamento é modificável.

8. Ser a favor ou contra este referendo não é a questão, penso eu. Este referendo tem implicações e, gostemos ou não existe... pelo que temos que votar e com consciência do que fizermos. De resto, Daniel de Oliveira fala de partidos e eu discordei dele quanto a isto ser uma questão política e não ética. Eu voto Não porque acho que não é uma solução ética para o problema e não porque estou veiculado a um partido político... e além disso, acho que o Estado também não tem o direito de não ser ético (como sucede em muitas ditaduras, por exemplo).

Espero ter deixado clara a minha posição (que penso, é a de todos os adeptos do Não moderados).
Cumprimentos e obrigado pela paciência
 
Gostaria ainda de complementar o meu comment anterior nos pontos correspondentes:
Ponto 1. Será que esta lógica relativista não se pode aplicar a todo e qualquer comportamento previsto na lei? Basta afirmar que a reprovabilidade de um acto ilegal é uma "convenção" para invocar esta lógica do "não me obrigue a seguir a sua opinião"! Um dos primeiros pontos do contrato social celebrado entre os humanos e que culminou na invenção da Lei é a de que não nos podemos apenas sujeitar à consciência individual... caso contrário é a anarquia

Ponto 2. O aborto não é equiparado ao infanticídio, não porque consideremos o embrião diferente da criança (como Daniel de Oliveira pretende fazer-nos crer), mas sim devido a razões de ordem prática que se prendem ao estatuto do embrião como indissociável da mãe! Se o embrião tivesse viabilidade fora do corpo materno, com certeza que tais excepções seriam para mim para abolir, independentemente da vontade da mulher!

Ponto 3. O próprio Daniel de Oliveira afirma que preferia as 12 semanas. Isto do estabelecer de prazos dissociados da realidade biológica não é tão inócuo como o quer fazer parecer! Quem afirma que uma mulher não necessita de mais de 10 (12) semanas para decidir! E se uma mulher que decidiu não abortar, depois tem algum contratempo, ou simples mudança de humor? Nos EUA, onde são permitidos abortos tardios! Até já ouvi falar numa entrevista (isolada é certo) de um político do Partido Democrata (não lhe sei dar referências porque perdi-as) que afirmou que não se devia penalizar o infanticídio de um recém-nascido porque entre este e o não nascido a única diferença era que tinha atravessado um tubo! Efectivamente tem razão! Tal como tem razão quem afirma que um embrião de 10 semanas é igual ao de 9,5 e o de 12 ao de 11,5! Então, se continuamos a estabelecer prazos desta forma, onde terminamos? Continuaremos a protelar o "início da vida"? Não será melhor afastarmo-nos deste terreno pantanoso?

Finalmente, não pude deixar de notar que postulou como "as questões que estão em causa neste referendo" aquelas que estão ligadas às preocupações do Sim e nas restantes os argumentos principais do Não. Tal parece-me ou pouco honesto ou completamente desvalorizador da nossa posição!

P.S. Antes que comecem a protestar, não chamei ditador a ninguém no ponto 8 do meu comment anterior, apenas procurei dar um exemplo de conduta pouco ética de Estado que não deve ser tolerada

Cumprimentos
 
Acho que o Daniel também gostará de saber que o seu post provocou comentários com esta qualidade. Mas confesso que não li o post por absoluta falta de tempo.
 
Acho que o Daniel também gostará de saber que o seu post provocou comentários com esta qualidade. Mas confesso que não li o post por absoluta falta de tempo.
 
Gostaria ainda de acrescentar mais uma coisa ao ponto 3:
Daniel de Oliveira compara os prazos de idade para votar e para conduzir com os prazos para a prática do aborto, dizendo que, afinal, há limites cronológicos legais. Mas estes são diferentes! Conduzir não é um Direito Fundamental e a Vida sim! Além disso, o direito a conduzir e a votar referem-se a direitos do próprio interessado na Lei e são prazos que, se tudo correr bem, em breve serão ultrapassados pelo indivíduo e ele poderá exercê-los. Nos prazos do aborto está em causa o direito de alguém que pode decidir pelo interessado e, da escolha, pode resultar uma acção que é a privação da existência e, como tal, é irreversível
Cumprimentos
 





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