ESTAMOS EM CAMPANHA, A VERDADE É UM PORMENOR

Já há uns dias um outro acérrimo defensor do aborto a pedido tinha dado um tiro no pé.
Desta feita foi o Daniel Oliveira. Tinha-o em melhor conta...

Caros leitores, a verdade é esta:
- a lei prevê a punição dos vários intervenientes no aborto (que não esteja dentro das situações de excepção previstas), incluindo a mulher. Faça-se justiça: o Daniel Oliveira disse a verdade.

Mas a verdade é também esta:
- as leis não são aplicadas cegamente. Existem tribunais e juízes que avaliam os crimes cometidos numa base discricionária, caso a caso, pelo que a mulher que aborta não é automaticamente condenada a pena de prisão. Não se conhecem, aliás, casos de mulheres presas por terem abortado, fora dos casos previstos na lei, até às 10 semanas.

E também é rigorosamente verdade que se o Sim ganhar:
- nenhum interveniente num processo de aborto realizado até às 10 semanas em estabelecimento autorizado pode ser penalizado. Nenhum. Nem a mulher que aborta, nem os demais envolvidos; e
- a punição mantém-se para os abortos realizados para além das 10 semanas.

O Daniel Oliveira esqueceu-se destas outras verdades. Está em campanha...

Comentários:
Joana, isso é absolutamente falso. Os casos de mulheres condenadas que se conhecem são, precisamente, por abortos realizados antes das 10 semanas. Sugiro-lhe que leia:
http://womenageatrois.blogspot.com/2007/01/no-ser-melhor-argumentar-com-seriedade.html
 
Sou mãe, Católica praticante, participo activamente em várias actividades na minha paróquia e acontece que recebi o postalzinho com a imagem da Senhora de Fátima a chorar. Acho que perdi a vontade de ir votar. Não perdi a minha Fé embora o mais provável seja abster-me na próxima votação. Este assunto é do nosso foro intímo.
 
estes tipos do Não são um espectáculo!!! não percebem que as mulheres podem ter situações dificeis e que, mesmo as que não têm, podem querer ter um vida sexual livre dos condicionalismos da padralhada! nós não dizemos sim ao aborto. dizemos sim à nossa liberdade. à liberdade das mulheres.
 
E a liberdade do bébé, fica onde? São mulheres ou são panzers?
 
"E a liberdade do bébé, fica onde? São mulheres ou são panzers?"

A falácia típica do apoiante do não é confundir bebés com embriões e fetos (e os zigotos, são bebés também?)
 
Cara anónima (12/1/2007):
Não entendo o seu problema, uma vez que também recebi o dito cujo postal e não encontrei nele nada de errado. Talvez devesse compartilhar as suas dúvidas com o padre da sua paróquia. Porque acho que a única coisa que justifique a sua abstenção seria se, à partida, já fosse abstencionista antes de receber o postal. Deixe-me compartilhar consigo uns pensamentos (que não compartilharia com outra pessoa que não católica):

1) Por toda a Bíblia, há referências a crianças ainda não nascidas com uma individualidade já marcada e que pode ser sede de milagres: "Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me formaste na barriga da minha mãe." (Salmo 139:13); "Antes do seu nascimento, quando ainda estavas na barriga da sua mãe, eu te escolhi e separei para que você fosse um profeta para as nações." (Jeremias 1:5); "Porém Deus, na sua graça, escolheu-me antes mesmo de eu nascer e chamou-me para servi-lo." (Gálatas 1:15); João Baptista exultou no ventre da sua mãe quando escutou a saudação de Maria; Esaú e Jacob discutiram no ventre da sua mãe o direito à primogenitura. Daqui concluo que, na Bíblia, as crianças não nascidas são já consideradas humanas.

2) Jesus teve particular interesse pelas crianças e pelos direitos delas: "quem escandalizar um destes pequeninos, melhor seria que lhe prendessem ao pescoço a uma mó e o atirassem ao mar" (Mc 9,42).

3) Um dos vilões da Bíblia é Pôncio Pilatos, que lavou as mãos da condenação de um inocente quando o podia ajudar a salvar, e em vez disso, deu à população a escolha sobre a vida de tal inocente.

4) Uma das obrigações da Igreja consiste na interpretação das palavras da Bíblia. Tal interpretação deve ser acatada, caso contrário suceder-se-iam cismas após cismas. A interpretação da Igreja e do Papa sobre este tema é clara e não deixa espaço para dúvidas... quem fôr a favor do aborto (ou o permitir de alguma forma) está a pecar. O Cristianismo não é só uma sucessão de rituais ou uma crença superficial em Deus: é um código de Vida a ser aplicado e que tenta defender os inocentes e que luta pela resolução dos problemas sociais.

Ainda assim, não utilizo este tipo de argumentos nesta discussão porque sei que muitos dos adeptos do Sim não compartilham da minha fé e, sinceramente, estes não são de longe os únicos argumentos que possuo. Na verdade, formei a minha opinião sobre o aborto antes de conhecer a posição da Igreja, baseando-me unicamente nos meus conhecimentos científicos sobre embriologia e ética. Deste modo fico já defendido contra os senhores que invocam "padralhadas" e escuso-me de lhes responder.

Cumprimentos
 
Sabe, eu falo assim porque até mesmo quem faz um aborto não diz vou abortar o embrião ou o feto ou o zigoto. Tal e qual como não se diz tenho um feto a crescer dentro de mim. Não fica bem. Digo bébé porque o é, eu sou daquelas que pensa que há pessoa humana desde o momento da concepção.

Mas se quiser que eu fale com termos "politicamente correctos" digo-lhe dentro da barriga da mulher que engravida está algo que sempre o fundamento de um ser humano, nunca poderá ser outra coisa, logo é pessoa, tem direito à vida e mais tem direito à protecção do seu direito de ser. Eu não posso ser livre sem ser. Logo antes da liberdade está ser. Se quero ser livre responsavelmente tenho de primeiro respeitar o ser e depois a liberdade.
 
Irmão Kephas:

Sem querer entrar em demasia no foro intimo do meu irmão, atrevo-me a pedir-lhe, se não for grande o transtorno, que me esclarecesse sobre dois pontos:

1) Como é possível um cristão dizer que tem opinião sobre um assunto desta índole sem que tal seja antes de mais fruto da sua Fé?

2) Se teve a paciência de me seguir até aqui gostaria ainda de levantar uma segunda questão: quantas semanas tinham os fetos quando Deus, na sua omnisciência, os escolheu para o desempenho das tarefas históricas que lhes viriam a ser acometidas?

3) Será concerteza pedir-lhe muito, bem o sei, mas ficar-lhe-ia eternamente grato se me informasse também sobre o seguinte: em parte nenhuma do Livro Antigo se fala do celibato dos padres. Não será esse celibato a verdadeira negação da Vida?

4) Eu bem vejo, simples pecador que sou, quão dificil é ser adorador de um Deus sem poder materializar numa imagem a nossa profunda crença. Quanto mais não seja precisamos de elevar os olhos para o céu, onde pensamos que Ele tem o seu trono e onde o encontraremos no fim dos tempos. Mas colocar no altar a Virgem ricamente adornada ou usar a sua imagem com uma fotomontagem onde ela simula chorar não lhe parece abusivo? E porque haveria de falar com o pároco se foi ele que fez a montagem?

Maria da Conceição Boaventura
 
Cara Maria da Conceição Boaventura:

Sobre o ponto 3), posso dizer-lhe (embora com algumas dúvidas) que foi S.Paulo que escolheu o celibato (de livre e espontânea vontade) e nunca o impôs. Mais do que isto não sei, mas julgo que se o celibato hoje existe é porque os padres da altura (se é que lhes podemos chamar assim) acharam que deviam seguir o exemplo de S.Paulo. É uma questão de opção para melhor seguir um caminho.

Mas isso em nada tem a ver com o referendo. Aliás, os argumentos do NÃO vão tão para lá das questões de fé que começam na própria pergunta!

JDC
 
Irmã Boaventura:
Não me importo nada de lhe responder, afinal estamos num debate e tudo que não seja insultuoso merece resposta:

1) A minha formação de opinião sobre este assunto é sui generis, admito... durante a minha fase de formação científica passei por um certo afastamento da Igreja (não por perda de Fé, mas andava muito imbuído na minha vida académica e passei a relegar a Fé para segundo plano no meu quotidiano). Aquando do primeiro referendo, a minha formação científica disse-me que o que estava a ser referendado não estava certo do ponto de vista ético estritamente material. Só mais tarde, ao ler uma crónica de um padre me apercebi da posição da Igreja sobre o assunto. Desde aí, passei a escutar os ensinamentos da Igreja sobre qualquer assunto com mais atenção e, inclusivé, a interessar-me pela Teologia. Pode-se dizer que o aborto foi a fonte da minha reaproximação à Igreja.

2) "quantas semanas tinham os fetos quando Deus, na sua omnisciência, os escolheu para o desempenho das tarefas históricas que lhes viriam a ser acometidas?" - se falou na omnisciência de Deus, então devo dizer que esse desempenho foi escolhido mesmo antes da Criação. Como o zigoto é a primeira entidade biológica com a individualidade do futuro ser humano, devo dizer que, "dentro do ventre" se deve aplicar desde a concepção até ao nascimento. É claro que não lhe posso explicitar o número de semanas de gestação que os bebés que referenciei tinham... mas acho que não é justo colocar escritores anteriores a 200 AD a falar de zigotos e fetos, certo? Se não se encontrar satisfeita com esta explicação, peço-lhe que leia a Anunciação segundo S. Lucas: "Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis conceberás no teu ventre e darás à Luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus!" - ou seja, Jesus tem a sua missão destinada desde a Concepção!

3) O celibato é, penso eu, uma forma de pôr à prova os padres, que assim devem despojar-se de tudo (inclusivé de famílias) para poderem ter uma dedicação total à Igreja! De resto, se vexa. fôr católica e não protestante (como é o meu caso), rejeita a noção de sola scriptura (ou seja, só o que vem na Escritura deve ser levado a cabo). Além das Escrituras, os católicos acreditam na Tradição, ou seja, Jesus passou o testemunho aos Apóstolos, cuja autoridade passou para o Clero. Isto deriva do facto de a Bíblia ser, obviamente, um livro finito, e, portanto, não conter, de uma forma directa, todas as respostas. Por isso, é necessário que alguém "especializado" nas Escrituras as interprete à luz dos problemas actuais... a Igreja. Se a Igreja encontra fundamento para o celibato dos padres, não devo partir do pressuposto que estão errados, só porque não concordo, uma vez que, à partida, eles sabem mais do que eu sobre o assunto.

4) Se fôr uma pessoa minimamente moderada (como penso que é), ainda que adepta do Sim, não será a favor do aborto, certo (pelo menos é o que todos dizem)? Por que não estaria Maria a chorar pelas crianças que vão ser mortas? Por que não estaria Deus a chorar por elas também? Consideraria abusivo se a instrumentalização da imagem envolvesse factores puramente egoístas! Não sendo assim, não me incomoda, mas isto sou só eu!

Cumprimentos
 





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